quarta-feira, outubro 10, 2018

Consequences

"But I didn't realize that. I [was] feeling so confident and so great about myself and then it just be completely shattered by one thing. By something so stupid. [...]

I was in pain."

- The Heart Want What It Wants.





Eu sei que no momento você não quer mais me ver, me ouvir ou sequer pensar em mim. Creio também que não importe o que eu diga ou faça e respeito sua posição, mas como esse é o único meio de eu conseguir colocar tudo pra fora, se algum dia você chegar a esse texto, saiba que ele é pra você.

Me sinto feliz por você ter me permitido experimentar um pouquinho do que é ser bem tratada por alguém, coisa que eu arrisco dizer que nunca fui, mas por um momento, gostaria que isso tudo nunca tivesse começado, sabe porquê? Porque eu adorava tudo aquilo.  
 
Adorava a forma como você me mantinha perto sem precisar me amarrar e o fato de eu querer estar com você sem imposição; seu sorriso sincero e safadinho ao mesmo tempo e minha vontade de te conhecer ainda mais; os 300 matchs que já tínhamos dado em nossos gostos e o jeito como você me dava apelidinhos engraçados; o fato de você beijar meu rosto inteirinho antes de me beijar os lábios e os abraços que me faziam querer nunca mais te largar por nada nesse mundo; o fato de você acariciar minha mão e me contar com brilho nos olhos sobre suas escolhas da vida; o sorriso que não saía dos meus lábios toda noite e que me fazia dormir pensando que eu merecia me sentir assim. 

Eu me sentia confortável. Sensação de estar em casa. Sensação de caminhar e não ter medo de fechar os olhos e só aproveitar o momento como se fosse eu tivesse ganhado na loteria. Sensação de sentir meu sangue correr pelas veias e ouvir meu coração bater rápido a cada movimento seu. Era ali que eu gostava de estar.

Eu me permiti abrir e pensei que era a melhor coisa a se fazer.

Não, não era.

Minha verdade ainda é bruta, dura, não calculada e, se machuca até a mim, não teria motivo para não machucar você. Eu sei que ela arranha, assusta e afasta. Tudo o que eu estava tentando evitar vem à tona em uma noite e, em um passe de mágica, sopra-se o castelo de cartas que eu estava construindo e me leva junto. Me sufoca, me cala e coloca em minhas palavras o poder de destruir o que eu minimamente tinha construído.

Me desmancha no ar. Já era - eu gritei.

Eu achei que fosse forte, que estivesse forte para dividir com alguém todos os avanços que eu tinha alcançado comigo mesma, mas parece eu sou só um poço de medo, insegurança e frustrações. 
Eu estava tão animada e extasiada com tudo que esqueci de me vigiar e coloquei tudo a perder. Quem já sofreu por amor desconfia da flor e eu deixei que minhas sombras acabassem com o pouco de mim que você havia conhecido. Do mesmo jeito que eu não coloquei minha mão no fogo por você, não teria porque você colocar por mim. 

Agora sou só eu enfrentando meus próprios fantasmas que ardem e queimam dentro de mim, que me perseguem e me tiram o ar toda vez que eu lembro disso. Agora sou só eu me afogando homeopaticamente em cada flash que percorre minha mente; sufocando em minhas péssimas decisões e carregando-as comigo até o dia em que eu morrer.

Por fim, sei que o que foi quebrado não vai e consertar e as cicatrizes não vão desaparecer e sei que eu também já deveria estar acostumada com isso. Não tem mais nada aqui para se agarrar e pensando direito Você fez bem em fugir.

Seria uma péssima decisão de qualquer forma. Eu não tenho nada para te dar.

Desculpe.

terça-feira, outubro 09, 2018

(Des)pertencer


Eu foquei no trabalho pra ver se melhorava, saí pra caminhar, respirei fundo, comi uma tigela de salada de frutas, tomei um banho quente, mas nada disso tirou o peso dos meus ombros. As lágrimas desciam quentes e sem controle pelo meu rosto e eu nem as impedia.

Acho que, no momento, são minhas melhores amigas e me fazem sentir menos sozinha, mais uma vez.

Entre um gole e outro de vinho, me perguntei como havia chegado até aqui e onde isso tudo tinha começado; porque eu ainda cometia os mesmos erros mesmo quando eu sentia "agora vai". Não obtive resposta.

Enquanto olhava as luzes acesas nos apartamentos a minha volta e o vento gelado batia em meu rosto que acompanhava a chuva fina que caia lá fora pensava quando foi que eu perdi o controle da minha vida. Eu já tive o controle, alguma vez?

Talvez meu erro tenha sido ignorar que eu vim ao  mundo com um defeito de fábrica. Daqueles que nem reciclagem conserta, só derretendo e fazendo um novo do zero: eu sinto demais.

Lembro me das minhas conversas  com as amigas e acho que elas têm mais fé em mim do que eu mesma. Elas se recheiam de palavras bonitas pra falar de mim e me incentivam a ver meu lado bom. Ela só não enxergam que eu estou muito quebrada pra acreditar no que elas dizem e, sobretudo, no amor.

As cicatrizes encobrem meu corpo e isso ninguém quer ver de perto. Algumas maiores outras menores; umas ainda inflamadas, outras já cicatrizadas, mas todas lá,de dia e de noite. Não, não me orgulho delas, pois não sou fã da mulher que elas me tornaram, mas, apesar de tudo, elas são a única coisa que me é paupável e me permite perceber que sobrevivi.

Elas assustam quem se aproxima. Elas afugentam todos aqueles que cruzam a linha do "tudo. E você?", mas não se preocupe, pois elas me assustam também. Elas me aprisionam e vivificam o meu defeitinho de fábrica.

Quanto mais eu tento me afastar delas, mais elas se multiplicam mergulhadas em relacionamentos rasos (ou nem relacionamentos), em expectativas, em culpa, frustração e medo.

Isso é assustador, né? Eu sei. Esse mês eu arrumei mais uma. Talvez a mais diferentona por ter sido eu a causadora, mas ainda não sei onde guardá-la. Enquanto ainda dói eu a só observo, cuido e espero dia após dia cicatrizar.

O barulho do relógio me desperta dos meus devaneios. 03h. Fecho a janela e me sento no sofá. O silêncio lá fora conflita com minha respiração entrecortada e, antes de adormecer, invejo as pessoas por elas poderem fugir ou desistir de mim.

Porque, eu mesma, não posso.

domingo, setembro 23, 2018


Enquanto conversávamos, eu me sentia cada vez mais distante daquele cara por quem eu, um dia, me apaixonei. Suas palavras eram escolhidas cuidadosamente, sem mostrar aquela hesitação costumeira que eu achava tanta graça. Seu olhar era distante e formal, quase que entediado.
A nossa conversa não era mais sobre os últimos lançamentos dos filmes da MARVEL, nem sobre o quanto eu me estressava à toa. Ela soava em um tom artificial, quase cético e qualquer pessoa que nos conhecesse mais à fundo poderia, com convicção, dizer que éramos dois figurantes da nova novela das 22h. Ele me fazia sentir como se houvesse uma barreira transparente e altamente desconfortável entre nós. Eu poderia tocá-la, senti-la, porém, jamais vê-la. E se, por um acaso, eu encostasse, mesmo que despropositadamente, em seu braço, seu ar polido se transformaria imediatamente em um olhar recriminante que me faria encolher sobre a cadeira. Eu não reconhecia mais aquela pessoa diante de mim com quem eu conversava.

Quem era ele? Em quem tinha se transformado em tão pouco tempo? O que o havia feito se tornar assim?

Mas, então, por um curto momento, eu vi que não estava tão louca assim. Perguntei sobre seu trabalho e sobre como estavam as coisas e ele me disse aquela frase clichê que todo mundo diz: "Não estou tendo tempo para nada. Ou quase nada." Disse me com pesar que o seu chefe não lhe dá folga nem um minuto e que, nessa e em muitas outras partes, sentia falta dos velhos amigos.

Dos velhos amigos. Essas palavras ficaram ecoando na minha cabeça e eu saí de órbita por alguns instantes. Ele tinha saudade de tudo, mas parecia que aquele tudo não me incluía.
Sua voz ao fundo chamava meu nome e isso me despertou. Meu coração doeu de uma forma inexplicável. Era uma dor quase palpável sob meu peito. Eu precisava sair dali o mais rápido possível.

Me levantei e lhe disse que precisava ir. Deixei o dinheiro do café sobre a mesa e fui embora. Eu não podia jamais deixa-lo ver o quanto eu ainda era a mesma de antes e o quanto ele ainda me influenciava, apesar de eu nunca ter sido muito boa em esconder meus sentimentos.

Não me espantei, ao caminhar para casa com os olhos cheios d'agua, ele não ter vindo atrás de mim. Pelo pouco que conversamos, ele não me parecia ter se tornado o homem que dá o braço a torcer. Talvez não quisesse ir atrás por não se importar mais comigo, afinal, eu não fazia mais parte da sua vida há um bom tempo e esse encontro não passava de mera coincidência da vida. E, céus, o que eu queria com tudo isso? Achar que ele continuaria o mesmo, mesmo depois de anos? Era caçoar do meu próprio destino.

Eu queria provar pra mim mesma que, mais uma vez, não valia a pena. Nós, de novo, não estávamos em sintonia. Talvez fosse realmente necessário fechar um livro que, me arrisco a dizer, nunca deveria ter sido aberto.

Verdades doem, mas meias verdades doem ainda mais.