domingo, setembro 23, 2018


Enquanto conversávamos, eu me sentia cada vez mais distante daquele cara por quem eu, um dia, me apaixonei. Suas palavras eram escolhidas cuidadosamente, sem mostrar aquela hesitação costumeira que eu achava tanta graça. Seu olhar era distante e formal, quase que entediado.
A nossa conversa não era mais sobre os últimos lançamentos dos filmes da MARVEL, nem sobre o quanto eu me estressava à toa. Ela soava em um tom artificial, quase cético e qualquer pessoa que nos conhecesse mais à fundo poderia, com convicção, dizer que éramos dois figurantes da nova novela das 22h. Ele me fazia sentir como se houvesse uma barreira transparente e altamente desconfortável entre nós. Eu poderia tocá-la, senti-la, porém, jamais vê-la. E se, por um acaso, eu encostasse, mesmo que despropositadamente, em seu braço, seu ar polido se transformaria imediatamente em um olhar recriminante que me faria encolher sobre a cadeira. Eu não reconhecia mais aquela pessoa diante de mim com quem eu conversava.

Quem era ele? Em quem tinha se transformado em tão pouco tempo? O que o havia feito se tornar assim?

Mas, então, por um curto momento, eu vi que não estava tão louca assim. Perguntei sobre seu trabalho e sobre como estavam as coisas e ele me disse aquela frase clichê que todo mundo diz: "Não estou tendo tempo para nada. Ou quase nada." Disse me com pesar que o seu chefe não lhe dá folga nem um minuto e que, nessa e em muitas outras partes, sentia falta dos velhos amigos.

Dos velhos amigos. Essas palavras ficaram ecoando na minha cabeça e eu saí de órbita por alguns instantes. Ele tinha saudade de tudo, mas parecia que aquele tudo não me incluía.
Sua voz ao fundo chamava meu nome e isso me despertou. Meu coração doeu de uma forma inexplicável. Era uma dor quase palpável sob meu peito. Eu precisava sair dali o mais rápido possível.

Me levantei e lhe disse que precisava ir. Deixei o dinheiro do café sobre a mesa e fui embora. Eu não podia jamais deixa-lo ver o quanto eu ainda era a mesma de antes e o quanto ele ainda me influenciava, apesar de eu nunca ter sido muito boa em esconder meus sentimentos.

Não me espantei, ao caminhar para casa com os olhos cheios d'agua, ele não ter vindo atrás de mim. Pelo pouco que conversamos, ele não me parecia ter se tornado o homem que dá o braço a torcer. Talvez não quisesse ir atrás por não se importar mais comigo, afinal, eu não fazia mais parte da sua vida há um bom tempo e esse encontro não passava de mera coincidência da vida. E, céus, o que eu queria com tudo isso? Achar que ele continuaria o mesmo, mesmo depois de anos? Era caçoar do meu próprio destino.

Eu queria provar pra mim mesma que, mais uma vez, não valia a pena. Nós, de novo, não estávamos em sintonia. Talvez fosse realmente necessário fechar um livro que, me arrisco a dizer, nunca deveria ter sido aberto.

Verdades doem, mas meias verdades doem ainda mais.

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