sexta-feira, fevereiro 12, 2016

A Batalha Final



Como a boa calmaria nunca dura para sempre, veio a tempestade. Eu já deveria ter me acostumado com ela e com seus ciclos cada vez mais curtos. E, como todas as outras, essa tempestade veio forte. Derrubou minhas portas, arrancou minhas janelas, dilacerou meu telhado e, em um único golpe, a estrutura da minha casa caiu. Lá estava eu, no meio da tempestade, sozinha, de novo.
Minhas costas já marcadas por tempestades anteriores adquiriam novas marcas de batalha que eu não me orgulhava em exibir.
Eu me encolhi no chão e tentei me proteger mas meu corpo não respondia, já estava cansado demais. Tentei correr mas o vento me derrubava ao chão não importando quantas vezes eu tentava levantar. Tentei buscar abrigo mas minhas só encontravam meus próprios destroços espalhados a minha volta.
Por fim, era só eu e a tempestade. Ela me golpeava sem dó e eu poia sentir o sangue escorrer de minhas costas, o vento a arder meus olhos e minhas mãos a se ferirem buscando se agarrarem em pedras pontiagudas.
Eu sempre soube o que a tempestade queria: Ela queria meu coração. Ela queria o amor que, mesmo após tantas outras, eu ainda cultivava com uma pequena flor em meio ao deserto. Ela queria a única coisa que me fazia diferente dela.
Após todas essas tempestades, eu fui me modificando. A água para regar minha flor já era escassa e as tempestades cada vez mais longas. A flor, antes verdinha, assistia agora, assim como eu, já não conseguia ter mais forças para resistir. Então, eu a arranquei, a coloquei junto ao meu coração e a prometi que ali dentro, mesmo que não comigo, ela floresceria em outra terra, sob outro ar.
Quando, então, a tempestade veio eu os entreguei e chorei, pois era a única coisa que me restava fazer. A florzinha e meu coração foram sugados pela tempestade e se seguiu intensa batalha. A tempestade, após resistir fortemente, se dissipou levando junto a florzinha e meu coração.
Agora, como temia, eu tinha me tornado a própria tempestade.

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